quinta-feira, 27 de março de 2014

Cuca


Muitas pessoas não acreditam em amor à primeira vista, mas eu acredito. Quando eu te vi pela primeira vez, você estava tentando pegar a bola que tinha caído na varanda de uma casa para um menininho. Achei bem legal a sua atitude, afinal toda a vizinhança odiava aquele menino (tipo um Bart Simpson da vida), mas ele era pequeno, e você fez o seu papel de "irmão mais velho" das criancinhas da rua, não fazendo pra impressionar ninguem, já que você ainda nem tinha me visto ali, a menina nova da rua, a vizinha "rica" da casa amarela. Mas quando você entregou a bola ao "El Barto", você olhou pro lado e eu, é claro, já estava encantada com quele plebeu que descia de uma escalada! Minha memória é péssima, mas desse momento eu lembro com todos os detalhes.
Depois de muitas fofocas, intrigas e boatos, resolvi pedir aos meus melhores amiguinhos pra  te contarem que eu gostava de você. Uma das piores atitudes que eu já tomei na minha vida. Tratando-se de paixãozinha e tal, foda-se, se for correspondida, vocês têm chance, se não, acabou e parte pra outra; mas amor acaba com você. Uma pessoa que não sente nada por você saber que você gosta muito dela, dá poder pra te fazer de gato e sapato, de te humilhar, de fazer você tentar decifrar um oi, cujo significado era apenas um 'oi' mesmo, mas que você via uma pitada de sentimento.
Eu relevo, tínhamos cerca de 14 anos, e você, 16 (16 - 3 (retardo mental dos meninos) = 13, mais novo que eu, mentalmente falando) éramos bem imaturos. Adorávamos  joguinhos: hoje te amo, amanhã te odeio; mas mesmo assim, você tratou o meu sentimento como tratavam o cachorro da nossa rua, o Puppy (in memoriam).
O tempo foi passando e, o que no inicio foi uma paixão, o tempo se encarregou de transformar num amor platônico, o pior que pode existir, porque eu não teria coragem, nunca, de ter algo com você, eu seria a que ama mais e você saberia disso. Você acabaria comigo.
Depois de tentativas de afastamento, de mudar de casa, e depois de bairro, de mudar de vida, você continua sendo o amor da minha vida, e eu, a menina que faria tudo por você.
Não quero com isso que você tenha dó de mim ou que se sinta culpado e obrigado a fazer algo pra reverter esse sofrimento, até porque não há nada que você ou eu possamos fazer pra mudar isso. "A dor precisa ser sentida".

                                     (Carta a D.M., meu amor platônico e amor à primeira vista desde 2006.)

Nenhum comentário:

Postar um comentário